Escrito por João Fernandes Gomes à Nanci Lopes Fernandes de Macedo.
Quero neste pequeno volume procurar extrair da minha memória os fatos ocorridos na trajetória desta família. É claro que eu gostaria de relatar minunciosamente todos os fatos ocorridos ao longo desta esrtada, mas infelizmente não tenho subsídios para tanto. Aproveito o ensejo para esclarecer que, eu, João, relator destes fatos não sou escritor e muito menos professor, e sim um curioso cheio de boa vontade, com pouca escolaridade. Portanto os erros que aparecerem ao longo desta serão plenamente justificáveis e peço que não me condenem por isso.
Familia Fernandes Gomes.
Pai: João Fernandes Corral
Mãe: Fernanda Gomes Martins
Filhos: Manoel, José, João, Álvaro, Álberto, Antônio, Madalena, Lourdes, Fernanda, Maria e Aparecida.
Uma família numerosa como a maioria das famílias de tempos passados. Uma família de nível social médio, não existem afortunados monetariamente, mas todos ricos em humildade, honestidade e responsabilidade. Sem intrigas, nem rancor entre si. Mas todas essas virtudes mencionadas aqui não vieram pelos ventos, e nem caíram do céu, mas sim vieram das mãos de dois heróis ou mesmo em épocas difícies, souberam criar, educar com amor, dedicação, carinho, ação e bons exemplos.
E mesmo morando longe de Escolas, não permitiram que nenhum de seus filhos crescessem analfabetos. Então vamos saber algo desses dois personagens da história de nossa família.
Ele, Papai, nasceu na espanha, na província de Almería em 12 de Junho de 1897. Filho de Manoel Fernandes Checa e Maria Corral, recebendo o nome de João.
Ela, mamãe, nasceu também na Espanha na província de Almería, na pequena Fondon, em Dez de Maio de 1903. Filha de José Gomes Compan e Fernanda Martins Lopes Recebem o nome de Fernanda. O mesmo nome de sua mãe que faleceu quando mamãe ainda era pequena. Aos sete anos mamãe juntamente com seu pai, sua madrastra e dois irmãos João e Silvestre embarcaram com destino ao Brasil. Juntamente com outros imigrantes Espanhóis. Depois de 27 dias de viagem, desemcarcaram no porto de Santos no dia 14 de Junho de 1910. Pouco tempo depois, em data ignorada, Papai juntamente com seus pais e dois irmãos José e Dolores desembarcaram no mesmo porto de Santos, Brasil. E por uma feliz coincidência foram morar na mesma fazenda que moravam os pais de mamãe, fazenda da alegria, situada nas cercanias da cidade de Franca, Estado de São Paulo. Por ali cresceram, viveram sua infância, adolescência e Juventude. Namoraram apaixonadamente. Ficaram noivos e se casaram no ano de 1919.
Logo no ano seguinte mais precisamente no dia 20 de Maio de 1920 nascia para a alegria do casal seu primeiro filho. Que em homenagem ao avó paterno recebeu o nome de Manoel. No ano seguinte nascia o segundo filho, isso se deu no dia 3 de agosto de 1921 e recebeu o nome de José, o mesmo nome do avo materno. O Terceiro filho nasceu em data ignorada por mim, se chamava João. Deus o levou poucos meses depois do seu nascimento. Nesta altura o casal já morava em Restinga, uma cidadinha distante de Franca, sete quilômetros. E foi aí que nasceu eu, João, em 21 de Julho de 1924. Efoi nesta mesma Restinga que nasceu o Álvaro no dia 21 de Agosto de 1926. Meses depois papai a procura de um lugar mais promissor e dar mais conforto a família resolveu mudar para Penápolis, uma região Cafeeira que necessitava de muita mão de obra. Arrumou dois baús com roupas e outros pertences da Família. Botou tudo em um vagão de trem da Estrada de Ferro Mogiana.
E lá vamos nós, chegando lá já foi informado que distante poucos quilômetros havia uma fazenda chamada 3 de maio de propriedade do Senhor Cecilio Molina, também Espanhol. Situada no Bairro do Paraguai, onde Papai foi contratado para trabalhar como colono, tratar de oito mil pés de café. Recebendo pagamento cada 40 dias, as obrigações do colono é carpar, replantar, podar, preparar a colheira, colher o café e entregar no terreiro da fazenda. Tudo isto se deu no ano de 1927. No ano seguinte nascia o primeiro penapolense, Alberto, no dia 10 de Fevereiro do ano 1928. Depois de uma folga de 3 anos, Mamãe deu a luz ao caçula dos Homense que no Batismo recebeu o nome de Antônio. Este acontecimento se deu no dia 11 de Agosto de 1931. No ano seguinte ainda na mesma Fazenda para alegria da família, no dia 19 de Junho de 1932 eis que nascia a primeira Mulher, que foi batizada como Madalena, que viria a ser a primeira de uma série.
Poucos meses depois em plena revolução de 1932, Papai resolveu voltar novamente para velha Mogiana terra de tantas recordações. Vendeu seus porquinhos, suas galinhas, apurou um dinheirinho, ajeitou a molecada na jardineira até Penápolis, e lá embarcou as trilhas no trem da Estrada de ferro Noroeste do Brasil até Bauru. Lá fizemos baldiação. Embarcamos no trem da Cia Mogiana, que nos levaria até mandihu, duas estações antes de Franca, Mandihu era uma estação de trem onde nosso avô, pai de Mamãe era dono do Boteco da própria estação. Quando chegamos o vovô ficou muito preocupado com nossa segurança, porque havia recebido um telex que as tropas mineiras haviam partido de Uberaba com destino a São Paulo, e passariam por Mandihu pela madrugada. E aconselhou o papai que nos levasse para a casa do Tio João Gomes, que morava em um sítuio retirado dali alguns quilômetros, lá estaríamos mais seguros.
Chegando na casa o Tio João estava de saída com a Família para um acampamento no meio da mata, com receio que as tropas mineiras usassem de alguma violência na redondeza. Então o papai disse para ele: Você me deixa a chave que eu vou dormir aqui com minha família. E assim foi, dormimos todos em uma cama. De fato os mineiros passaram pela madrugada, comeram e beberam a vontade. e o comandante da tropa pagou todas as despesas para o vovô. No dia seguinte fomos até a fazenda de Macaúbas, situada próxima a Cidade de Batatais onde o Papai ia trabalhar como colono. Nesta fazenda já morava o vovô Manuel, pai do Papai, e coincidentemente fomos morar vizinhos dele. O Vovô morava na casa número 61 e nós na 62. Poucos meses depois papai começou a receber correspondências do Sr Cecilio Molina, seu ex-Patrão, implorando que ele voltasse a trabalhar novamente na sua fazenda. Foi quando bastou para mexer com a cabeça do papai, e não deu outra, terminando o contrato de trabalho em vigor na fazenda Macaubas, papai reuniu a família e anunciou: Amanhã mesmo partiremos para Penápolis. E na manhã seguinte começamos a maratona da volta. Isso já nos últimos meses do ano de 1933. Voltamos nas mesmas condições dos anos anteriores, de colono na mesma fazenda, somente a casa não era a mesma, até o cachorro que deixamos há um ano atrás voltou para nós novamente, o Negrinho Tupy.
No ano seguinte no dia 4 de Novembro de 1934 nascia outra menina que recebeu o nome de Lourdes. Nós ficamos morando nesta fazenda até o ano de 1937 quando papai recebeu um convite para morar no sítio do Sr Rogério. Tratar de um sítio de 15 mil pés de café como mineiro, 50% do produto para o patrão e 50% para o papai. Aí as coisas melhoraram um pouco. Nesta nova moradia nasceu a Fernanda, no dia de Janeiro de 1938. No ano seguinte, 1939 foi um ano muito difícil. Começou com a 2ª Guerra Mundial em consequência começaram a escassez de alimentos básicos, como farinha, açúcar e outros aliminentos de primeira necessidade. E se não bastasse isso tudo, depois veio o pior que podia acontecer para a Família com a doença do Manoel, filho mais velho, que começou com uma gripe forte, uma recaída seguida de pneumonia, que com a falta de recursos na época veio a falecer. Um duro e triste golpe para Papai e Mamãe que perderam seu filho mais velho, que com seus 19 anos na flor da idade já despontava como verdadeiro líder da família. E nós perdemos o irmão que admirávamos e respeitávamos seu jeito sereno e educado de tratar as pessoas.
Mas com o tempo a gente foi se conformando com a realidade da vida e se acostumando a viver sem a sua companhia. Pouco tempo depois, Deus se encarregou de trazer a volta da alegria no lar, mandando logo nos primeiros meses de 1940 mais uma filha, precisamente no dia 26 de abril. Uma menina que no batismo recebeu o nome de Maria, no ano seguinte depois de uma boa colheira de café, papai ficou sabendo que na alta Noroeste estava nascendo uma nova cidade, chamada de Andradina. Nome este em homenagem ao senador da República Auro Soares de Moura Andrade, dono de toda aquela região, na época conhecido como o Rei do Gado, o terreno que estava sendo loteado seria um futuro bem próximo, o centro da cidade. Papai se entusiasmou, foi até lá e comprou um lote cuja área media 450 m². Pouco tempo depois o Sr José Polemene que possuía uma casa no patrimônio do Paraguai propôs ao papai a troca da casa pelo terreno em Andradina, e mais uma quantia em dinheiro. E o negócio foi fechado. A casa estava localizada ao lado da igreja Nossa senhora Aparecida que era a padroeira do local. A Casa possuía 4 dormitórios, uma sala grande, uma cozinha, um salão de barbeiro completo e uma freguesia de fogo de bicho.
Papai aproveitou que o José, nosso irmão já possuía alguma prática na profissão de barbeiro e deu o salão para ele trabalhar. Para quem não sabe, patrimônio é o lugar onde se concentrava o comércio da redondeza. Um armazém de secos e molhados, um açougue, uma Farmácia e um boteco (bar), uma igreja e uma loja de Armarinhos chamada Loja do Sol, local onde o Toninho ainda garoto arrumou seu primeiro emprego e os demais, papai, João, Álvaro e Alberto passaram a trabalhar em um sítio vizinho.
A Nossa casa estava localizada ao lado da igreja, onde eram concetradas todas as atividades religiosas. Era rezado o terço todas as quartas-feiras e reunião da congregação Mariana, Eu e o José éramos congregados. Missas todos últimos domingos do mês, seguida de batizados, festa da padroeira, todo dia oito de setembro. Festa essa aguardada com ansiedade para todos, porque era o maior acontecimento na redondeza. A Gente passava um dia muito alegre. Ouvir a Bandade música tocar, chupar sorvete, comer pé de moleque, mandar correio elegante para as meninas, acompanhar a procissão com bandas de músicas e foguetório.
Em 1945 no dia 10 de maio terminava a 2ª Guerra Mundial com a participação dos nossos pracinhas Brasileiros. Foi um dia de muitas comemorações de alegria. Dois meses depois todos os jornais e estações de rádio anunciavam o seguinte: Todo cidadão Brasileiro nascido entre 1 de janeiro a 31 de dezembro de 1924 está convocado para o serviço militar, devendo se apresentar até o dia 15 de setembro ao quartel mais próximo de sua residência no dia determinado.
Eu e o papai viajamos para a cidade de Lins, distante de Penápolis 50 quilômetros mais ou menos, cidade sede do 2° Batalhão da 4ª Região da infantaria. Eu me apresentei. Horas depois era exposta no quadro de avisos a lista dos recrutas que ficariam servindo em Lins e os que iriam servir em 3 lagoas, Estado de Mato Grosso. O meu nome constava na lista que dos que iriam para 3 lagoas. O Papai não gostou da ideia, eu não sei o que ele arrumou, mas ele foi falar com o sargento encarregado do recrutamento e duas horas depois meu nome estava na lista dos que ficariam servindo em Lins. No dia seguinte eu já estava incorporado nas fileiras do Exército Brasileiro. Passados três meses de exercícios puxados e disciplina rígida, prestei concurso para o CCC (Curso Candidato a Cabo). E fui bem sucedido.
Logo que fui promovido passei a exercer as funções de Cabo Armeiro, responsável pelo Material Bélico da 3ª Companhia, gozando de certas regalias, ficando desobrigado de comer a xepa no rancho, e sim, comer em restaurante particular e passando a receber um aumento de 17.300 réis para 901.000 réis. E com direito de visitar minha família a cada 15 dias, matar a saudade de todos, principalmente da mamãe que depois de 5 anos de jejum esperava mais um filho, cujo nascimento se deu em 29 de Janeiro de 1946...mais uma menina, que recebeu o nome de Aparecida. Saiu, fechou a porta e jogou a chave fora. Eu não poderia deixar de mencionar aqui uma família que morava no Paraguai. Se tornaram amigos do papai e da mamãe, os laços desta amizade foram tão fortes que eles se tornaram compadres por quase uma dezena de vezes. Eles tinham 6 filhos: Francisco, Eduardo, Marcia, Felicidade, Terezinha e Fernanda. Os pais se chamavam Francisco Lopes e Dolores Ávalos. Até a data de hoje existe aquela amizade entre as famílias. Em 1946 eles moravam em Sorocaba, e foi essa velha amizade que fez com que o papai resolvesse também mudar-se para Sorocaba. Vendeu a casa que morávamos para o Sr Elias Penteado, um velho situante da redondeza. O papai cheio de boa vontade vendo que família crescia, achou por bem mudar-se para um centro mais civilizado. Chegando em Sorocaba, tratou de arrumar emprego para os meninos Álvaro, Alberto e Antônio. E o Papai com o dinheiro que apurou da venda da casa comprou um bar. Mas o negócio não deu o resultado esperado, talvez pela inexperiência no Ramo, começou a ter prejuízo e foi obrigado a vender o estabelicimento com algum prejuízo.
Nesta altura o nosso irmão José que havia se caso no ano de 1944 já morava em sorocaba exercendo a profissão de Barbeiro. No dia 6 de Outubro de 1946, eu, João, recebi baixa do exército e viajei em seguida para me incorporar a família. Dias depois arrumei um emprego em uma firma chamada Saíra na mesma firma onde o Álvaro já trabalhava.
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